O verdadeiro culpado?

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Publicado em: 5/02/2009

Provavelmente o jogador mais contestado da fase negra do basquete brasileiro (1997/presente), Marcelinho Machado começou a sua carreira de forma promissora.

Apesar de ter começado no Flamengo, seu clube atual, foi no Fluminense que o ala-armador passou a chamar atenção. Logo chegou à seleção brasileira adulta principal, disputando o Mundial/98.

Em 2002, Machado viveu o seu melhor momento pela seleção brasileira, ao marcar uma cesta de 3 pontos no estouro do cronômetro para dar a vitória ao Brasil sobre a Turquia, garantindo a classificação brasileira para a segunda fase do Mundial, na primeira colocação de seu grupo.

Naquele momento, contudo, um outro grupo, da mesma geração de Machado, começava a brilhar muito mais intensamente: a seleção Argentina, comandada por Emanuel Ginóbili. A seleção brasileira acabou eliminada naquele Mundial pelos hermanos que iniciavam ali sua era de ouro.

Para a seleção brasileira, a eliminação no Mundial/2002 significou mais um fracasso, e, dali em diante, Marcelinho passou a ser apontado por muitos como o principal responsável.

Dono de um estilo de jogo associado à talentosa, porém não tão vitoriosa, geração de Oscar, Marcelinho Machado é um especialista nos tiros de longa distância. O seu repertório ofensivo é limitado, a sua defesa nula e seu bom passe é muito mal aproveitado.

A sua média de arremessos de 3 pontos por partida, seja em torneios domésticos, seja em âmbito internacional pela seleção, costuma superar números de qualquer canto do planeta. Na NBA, por exemplo, onde as partidas são 8 minutos mais longas, o líder no fundamento, Rashard Lewis, chuta em média 6,9 arremessos de longa distância por partida, enquanto que Marcelinho Machado arremessa 9,7 bolas de três pontos por jogo no Brasil.

Não é exatamente uma tarefa fácil apontar a causa de tantos arremessos: trabalho de base deficitário, falta de orientação técnica, influência da geração Oscar Schimidt, todos esses fatores podem ter contribuído de certa forma.

Contudo, a causa preponderante pode estar, na realidade, no sucesso do ala-armador em âmbito nacional. Deveras, deve ser difícil mudar um estilo de jogo que tem funcionado tão bem no país em que o jogador ganha o seu pão de cada dia.

Atenção para as informações a seguir:

1. Marcelinho Machado não perde para uma equipe brasileira desde 16 de novembro de 2007. Foi na derrota do Flamengo para o Vasco da Gama (então representada pelo elenco do Universo/BRB) por 74 x 73, em partida válida pelo Campeonato Carioca 2007.

2. Desde a sua estréia no Flamengo, em 7 de outubro de 2007, a derrota contra o Vasco da Gama foi a única de Marcelinho Machado contra uma equipe brasileira.

3. Em 2007, além do clássico, a única derrota de Marcelinho Machado com a camisa rubro-negra foi contra o Boca Juniors, da Argentina (77×76). No total, 17 vitórias e 2 derrotas naquele ano.

4. Em 2008, Marcelinho Machado disputou 47 partidas, com 44 vitórias e apenas 3 derrotas, todas para equipes argentinas (Boca Juniors 100 x 88 Flamengo; Regatas de Corrientes 95 x 72 Flamengo e Regatas de Corrientes 73 x 65 Flamengo).

5. O ala-armador não participou de nenhuma das 3 derrotas do Flamengo no Nacional 2008, pois estava sendo poupado. Suspenso, Machado não participou de uma das 3 derrotas sofridas para o Regatas de Corrientes.

6. Em 2009, foram 5 vitórias e uma derrota, mais uma vez contra uma equipe argentina (Libertad Sunchales 93 x 84 Flamengo).

Em síntese, desde que chegou ao Flamengo, Marcelinho Machado disputou 72 partidas, perdendo apenas em 6 ocasiões, das quais 5 foram contra equipes argentinas.

Embora algumas dessas partidas tenham sido disputadas contra os fraquíssimos elencos que disputam o Campeonato Estadual do Rio de Janeiro e a ausência das equipes paulistas no Nacional 2008 tenham colaborado bastante, esses números continuam a impressionar. Somente contra o “poderoso elenco” do Universo/BRB, Marcelinho Machado conquistou 9 vitórias em 10 jogos (relembrando: a única derrota foi exatamente a única de Machado contra uma equipe brasileira – o Vasco da Gama, que contava com os jogadores do Universo).

Esses números nos levam a uma outra reflexão: seria Marcelinho e seus arremessos de 3 pontos os verdadeiros culpados pelo insucesso do basquete brasileiro ou o nosso fracasso seria justamente não conseguir conter Marcelinho e seus arremessos de 3 pontos?

Assistindo as 4 primeiras partidas do NBB transmitidas pela televisão, foi possível constatar que o sem número de arremessos de 3 pontos foi, digamos assim, justificável pela liberdade encontrada pelos jogadores na maioria dos casos. E se os placares não foram ainda mais elásticos, tal fato se deve à perceptível incapacidade técnica dos nossos arremessadores, com algumas exceções, a começar pelo próprio Marcelinho.

Na partida entre Minas e Flamengo, por exemplo, foram disparados 54 arremessos de 3 pontos. Número impressionante, mas que pode ser considerado até mesmo baixo diante da quantidade de falhas grotescas de marcação de ambas as equipes. Na verdade, impressiona mais o fato de que apenas 18 dos arremessos acertaram o seu alvo.

Encontrassem os gregos, os alemães, os espanhóis, tal liberdade, certamente uma quantidade muito maior de arremessos de 3 pontos teriam sido lançados. A diferença é que o aproveitamento no acerto dificilmente ficaria abaixo dos 60%. Afinal, essas seleções internacionais muitas vezes trabalham de 18 a 24 segundos por posse de bola para encontrar buracos defensivos que os jogadores brasileiros na verdade já proporcionam instantaneamente.

No exterior, enfrentando defesas infinitamente mais fortes, surgem os arremessos despropositados e os erros não forçados, não apenas do Marcelinho, mas da maioria dos jogadores, principalmente os com pouca bagagem internacional. São jogadores desacostumados a jogar e enfrentar defesas fortes.

Aliás, a fragilidade defensiva é tão grande no Brasil, que o próprio Marcelinho Machado tem conseguido produzir um repertório ofensivo mais amplo, como, por exemplo, as duas infiltrações que definiram a partida contra o Pinheiros nos segundos finais.

Assim, atualmente parece muito mais urgente e preocupante a incapacidade das equipes brasileiras para organizar uma defesa equilibrada capaz de conter arremessos, da distância que for, bem como a falta de bons defensores, do que propriamente com uma suposta quantidade exagerada de arremessos de 3 pontos. Afinal, convenhamos, as defesas brasileiras conseguiram transformar o ímpeto de Marcelinho Machado numa virtude, ao menos em âmbito doméstico.

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