Entrevista Exclusiva Draft Brasil: Carlos Delfino

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Publicado em: 9/05/2009

O Draft Brasil começa a contagem regressiva para o seu quinto aniversário. Embora o Fórum seja anterior ao site, convencionamos comemorar o 11 de agosto como nossa data, rememorando o 2004 como o ano que nascemos.

Dando início às festividades, nada melhor que uma entrevista internacional de grande relevo. Nós, que tivemos a oportunidade de falar com exclusividade com Juan Carlos Navarro semanas antes de conquistar o Mundial pela Espanha em 2006, temos agora a chance de repetir o feito ouvindo outro grande nome mundial da modalidade: trata-se do mais bem pago jogador do basquete europeu, o argentino Carlos Delfino.

Delfino é de Santa Fé, começou a ser percebido no time local, o Unión. Na Itália, primeiro no Reggio Calabria e depois no Skipper Bologna, desenvolveu seu jogo. Em 2003, foi draftado na 25ª escolha mas ficou um ano a mais na Europa até integrar por três temporadas o Detroit Pistons. Com pouco tempo de jogo, partiu para o Canadá para defender os Raptors, onde fez sua melhor temporada na NBA.

No último ano, porém, foi um dos mais importantes personagens neste momento de novo rumo do basquete internacional: o êxodo dos EUA para a Europa – caminho seguido por Navarro, Garbajosa, Childress, por exemplo.

Com admirável humildade e disponibilidade, o medalhista olímpico (ouro em Atenas e bronze em Pequim), falou conosco diretamente da Rússia, onde defende, há menos de um ano, o BC Khimki, sobre sua carreira, o basquete brasileiro e a geração dourada do basquete argentino.

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Draft Brasil – No último ano, você, Josh Childress, Navarro, Nachbar e Garbajosa, trocaram a NBA pelo basquete europeu. Você acredita que em 2009, o mesmo pode acontecer?

Acho que foi algo especial que se deu não só por boas propostas financeiras mas também pela oportunidade de alguns jogadores melhorarem seu jogo, experiência ou minutos em quadra. A mudança da NBA para Europa sempre acontece. Não sei quem será o próximo mas não me surpreenderia se jogadores com muito valor nos EUA voltassem para seus países de origem, perto de suas famílias, ou algo próximo disso.

Draft Brasil – Como foi jogar esta temporada na liga de basquete da Russia? O que você pode nos dizer sobre esta competição?

A liga é uma competição que cresce com independência, muito em função do grande poder financeiro que possui e pela aquisição de jogadores importantes. Em nível de organização, ainda há o que melhorar. Além do fato de que com a crise econômica, algumas equipes falam em reduzir elencos. Alguns jogadores deixaram o país no meio da última temporada, o que faz todos pensarem em um futuro complicado nesse sentido. Pessoalmente eu acho que isso acontecerá em todas as ligas do mundo, exceto a NBA. Minha temporada considero que foi boa, apesar de ter tido algumas lesões, que me mantiveram afastado por quase 4 meses, entre a lesão no ombro e a outra que tive em um dos dedos.

DB – A última grande chance que o Brasil teve de participar de uma Olímpiada foi na Copa América, quando a seleção argentina só contava, de jogadores de ponta, com você, Prigioni e Scola. Foi uma das partidas mais tristes da história do basquete brasileiro. O que você se lembra desta partida? Na sua opinião, qual o motivo do Brasil não conseguir disputar os jogos olímpicos desde 1996? (estatísticas do jogo em questão, aqui).

Me lembro muito desta partida porque ela era “A partida”. Uma final para ambos dentro de uma semifinal. Além do fato de ser um clássico Brasil x Argentina. Felizmente conseguimos ganhar e isso nos deu a oportunidade de podermos defender a nossa medalha em Pequim. Eu acho que o Brasil tem um time com muito talento e que é apenas uma questão de tempo para que possam começar a ter bons resultados. Além do que, tenho muito carinho pelo Leandro e pelo Nenê, que além de grandes jogadores, são ótimas pessoas.

DB– Falando sobre o basquete argentino, qual foi o caminho para a criação desta geração fantástica? Você é o grande nome para o futuro desta seleção. Acredita que é possível conquistar medalhas olímpicas sem Ginóbili, Oberto e Nocioni?

Acho que a Argentina teve muita sorte de ter essa geração fantástica, que desde o começo se sacrificou e se dedicou a defender a camisa da seleção. O dia que faltarem estes jogadores que você citou, é claro que as coisas vão ser mais difíceis, mas não considero que seja algo impossível de realizar. Vai ser um grande desafio, mas se pensarmos no impossível, é melhor nem nos reunirmos para começar os treinos.

DB – Já que falamos de Olimpíadas, quais são suas melhores recordações de Atenas 2004 e também de Pequim 2008?

A medalha mais “pesada” é a de ouro. Ser parte daquele grupo foi algo incrível e maravilhoso, algo que vou guardar na memória para sempre. Joguei com ídolos que tinha desde pequeno e nos tornamos grandes juntos.
Já Pequim me deu a medalha mais linda, a que mais desfrutei e que vou levar no meu coração. Pelo esforço, pelo amor próprio, sacrifício e pela raça que colocamos em quadra, para poder estar entre os três primeiros denovo.

DB – Na sua opinião, qual foi a melhor partida na sua carreira? Na minha opinião foram os 23 pontos contra a Grécia, em Pequim e aquela partida semifinal da Euroliga, contra o Montepaschi Siena, quando você marcou 22 pontos (5 arremessos de 3 convertidos). Mas acho que você é mais apropriado pra falar disso do que eu (risos).

Essas partidas são lembradas pelos grandes momentos que elas vieram a proporcionar. Mas sempre terei algo especial de cada partida que jogo. Algumas em particular. Me lembro de quando vencemos os EUA em Ribeirão Preto, na final panamericana sub 21. Foi um momento que me dei conta de tudo que podia vir a fazer. E também quando anotei 39 pontos na Liga Italiana, com apenas 20 anos de idade.

DB– Quem foi o melhor treinador que você teve a oportunidade de trabalhar?

Tive grandes treinadores como Larry Brown, Flip Saunders e agora Sergio Scariolo. Com todos estes aprendi muito, mas os que mais me marcaram e me fizeram crescer foram Gonzalo Garcia, Jasmin Repesa, Tonino Zorzi e Sam Mitchel. E quem mais me ensinou desde de criança e ainda trabalha e treina comigo todos os verões é o meu pai. Ele não tem o nome de todos estes que citei, mas me conhece melhor do que ninguém e sempre consegue me motivar.

DB – E dos jogadores, qual o melhor jogador com quem você já trabalhou? E o melhor que já enfrentou?

Como companheiro, tive a sorte e o prazer de sempre jogar com grandes jogadores, tanto na seleção quanto nos clubes. O maior exemplo pra mim, de profissional tanto dentro quanto fora da quadra, é Fabricio Oberto. Os que já enfrentei, foram vários também, a passar por Oscar, Bodiroga, Sabonis… até chegar no Kobe, que hoje é o numero 1.

DB – E sobre os brasileiros? Quem você considera o melhor da atualidade?

Do passado, penso que o Oscar. Um ídolo do qual sei bastante pois ambos tivemos Tonino Zorzi como treinador e este sempre me falava da paixão que Oscar tinha pelo jogo. Na atualidade, Nenê e Leandrinho são os melhores.

DB – Para terminar, gostaria de saber quais são seus planos com a seleção? Voce vai disputar a Copa América? E o Mundial de 2010?

Ainda não sei. Tenho que ver como vou terminar fisicamente a temporada aqui para depois tomar uma decisão. Sempre quero defender as cores do meu país. Então espero que corra tudo bem para que possa fazer isto uma vez mais.

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Texto de abertura e entrevista: Guilherme Tadeu de Paula – editor do Draft Brasil

Tradução: Diego Silvestrini

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Fotos: CBB, site oficial do clube russo e FIBA.

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