30 anos sem culhão?

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Publicado em: 13/09/2010
Oscar Schmidt, o último (segundo o próprio) jogador brasileiro com "culhões"

Oscar Schmidt, o último (segundo o próprio) jogador brasileiro com "culhões"

Fala-se muito em “culhão” para resolver os problemas da atual seleção brasileira de basquetebol. O Brasil não faz nenhum resultado decente no basquetebol mundial desde 1978, terceiro lugar no Mundial da Filipinas. Sim, são trinta e dois anos de resultados razoáveis ou pífios.

Não caírei no discurso simplista de dizer que o Pan Americano de Indianapólis foi a maior vitória do nosso basquetebol, ou coisa do gênero, pois não foi. Somos bi-campões mundiais no
masculino, 1959 e 1963, temos duas lendas vivas do jogo entre nós, Mestres Wlamir
Marques e Amaury Passos. Logo, não precisamos criar mitos em cima de torneio de
segunda ordem para dar credibilidade ao esporte. Alias, repetir a nossa maior

geração de jogadores será algo muito dificil:

  • Bi-Campeão do Mundo: 1959 e 1963
  • Vice-Campeã do Mundo: 1954 e 1970
  • Terceiro Lugar do Mundo: 1967
  • Duas Medalhas de Bronze em Jogos Olímpicos: 1960 (Roma) e 1964 (Tóquio)

Excluindo este momento histórico em que éramos potência no cenário
mundial, tivemos dois terceiros lugares de extrema importância. Um, com a geração
anterior a esta bi-campeã mundial, a de 1948, nos Jogos de
Londres. Outro, com a de 1978, no Mundial das Filipinas.
Depois deste terceiro posto, não tivemos mais resultados no nível mundial que nos credenciassem a dizer que estamos mesmo entre os melhores do mundo. Aqui, novamente, excluo o Pan
Americano, uma vez que os europeus não jogam, o que significa a exclusão de
equipes do porte da URSS, Iugoslávia, Espanha, Itália, Grécia e mais recentemente das
repúblicas desmembradas tanto da URSS quanto da Iugoslávia.

Fala-se em falta de “culhão” para rebaixar a seleção atual. Fala-se em falta de
alguém que levasse o time nos momentos decisivos. Vamos analisar alguns resultados,
de forma rápida, das nossas participações em Mundiais e Jogos Olímpicos.

1980 – Jogos Olímpicos de Moscou

Olímpiadas de Moscou (80), vencida pela Iuguslávia

Olímpiadas de Moscou (80), vencida pela Iuguslávia

Brasil chega aos Jogos Olímpicos sendo o terceiro melhor time de basquetebol
do mundo, após o Mundial Filipinas-78.

Campanha:

7 jogos. 4 vitórias e 3 derrotas.

  • Vencemos: Tchecoslováquia (72 x 70), Índia (137 x 64), Cuba (94 x 93) e Itália (90 x 77)
  • Perdemos: URSS (101 x 80), Espanha (110 x 81) e Iugoslávia (96 x 95).

Saldo:

  • Contra Europeus: 5 jogos – 2 vitórias e 3 derrotas.
  • Contra Asiáticos: 1 jogo – 1 vitória.
  • Contra Americanos: 1 jogo – 1 vitória.
  • Colocação Final: 5º entre 12 seleções.

1982 – Mundial da Colômbia

Brasil chega ao Mundial sendo o quinto dos Jogos Olímpicos, dois anos antes.

Campanha:

  • 7 jogos – 4 vitórias e 3 derrotas
  • Vencemos: Costa do Marfim (102 x 79), China (93 x 79), Uruguai (96 x 77), Tchecoslováquia (98 x 94)
  • Perdemos: Austrália (75 x 73), URSS (99 x 92), Panamá (86 x 85)

Saldo:

  • Contra Europeus: 2 jogos – 1 vitória e 1 derrota
  • Contra Asiáticos: 1 jogo – 1 vitória
  • Contra Oceânicos: 1 jogo – 1 derrota
  • Contra Americanos: 2 jogos – 1 vitória e 1 derrota
  • Contra Africanos: 1 jogo – 1 vitória
  • Colocação Final: 8º entre 13 seleções

Observação: Pior colocação da história do Brasil em um Mundial até então.

1984 – Jogos Olímpicos de Los Angeles

Olímpiada de 1984, disputada em Los Angeles

Olímpiada de 1984, disputada em Los Angeles

Brasil chega credenciado como o oitavo no último Mundial.

Campanha:

  • 7 jogos – 3 vitórias e 4 derrotas
  • Vencemos: Egito (91 x 82), França (100 x 86), China (86 x 76)
  • Perdemos: Austrália (76 x 72), Itália (89 x 78), Iugoslávia (98 x 85), Alemanha (78 x 75)

Saldo:

  • Contra Europeus: 4 jogos – 1 vitória e 3 derrotas
  • Contra Asiáticos: 1 jogo – 1 vitória
  • Contra Africanos: 1 jogo – 1 vitória
  • Contra Oceânicos: 1 jogo – 1 derrota
  • Colocação Final: 9º entre 12 seleções.

Observação: Até então, nossa pior colocação na história em Jogos Olímpicos.

1986 – Mundial da Espanha

Campanha:

  • 10 jogos – 6 vitórias e 4 derrotas
  • Vencemos: Coréia do Sul (104 x 74), Panamá (88 x 85), Grécia (115 x 85), Espanha (86 x 72), Cuba (99 x 83) e Israel (90 x 75)
  • Perdemos: França (93 x 85), URSS (110 x 101), EUA (96 x 80) e Iugoslávia (117 x 91)

Saldo:

  • Contra Europeus: 6 jogos – 3 vitórias e 3 derrotas. *Israel aqui considerado Europa para fins estatísticos
  • Contra Asiáticos: 1 jogo – 1 vitória
  • Contra Americanos: 3 jogos – 2 vitórias e 1 derrota
  • Colocação Final: 4º entre 24 seleções.

Observação: Primeiro Mundial com 24 equipes, divididas em 4 grupos de 6 seleções
cada.

1988 – Jogos Olímpicos de Seul

Brasil x EUA, nas Olímpiadas de Seul em 1988

Brasil x EUA, nas Olímpiadas de Seul em 1988

Chegamos ao torneio olímpico, campeões do Pan-Americano de 1987

Campanha:

  • 8 jogos – 5 vitórias e 3 derrotas
  • Vencemos: Canadá, duas vezes (125 x 109 e 106 x 90), China (130 x 108), Egito (138 x 95), Porto Rico (104 x 86)
  • Perdemos: EUA (102 x 87), Espanha (118 x 110) e URSS (110 x 105)

Saldo:

  • Contra Europeus: 2 jogos – 2 derrotas
  • Contra Americanos: 4 jogos – 3 vitórias e 1 derrota
  • Contra Asiáticos: 1 jogo – 1 vitória
  • Contra Africanos: 1 jogo – 1 vitória
  • Colocação Final: 5º entre 12 seleções

Obsevação: Se não perdessemos para a Espanha, jogaríamos as quartas contra a Austrália
e não contra a URSS e obviamente teríamos mais chances de ir para a semi-final do
torneio olímpico. Porém lembrando que, nos dois encontros anteriores com a Austrália
na década de 80, perdemos ambos.

1990 – Mundial da Argentina

Campanha: 8 jogos – 4 vitórias e 4 derrotas.

  • Vencemos: Itália (125 x 109), China (138 x 95), Austrália (100 x 93) e Grécia (97 x 94)
  • Perdemos: Iugoslávia (105 x 86), Austrália (fase de grupos: 69 x 68), Grécia (103 x 88) e URSS (110 x 100)

Saldo:

  • Contra Europeus: 5 jogos – 2 vitórias e 3 derrotas
  • Contra Asiáticos: 1 jogo – 1 vitória
  • Contra Oceânicos: 2 jogos – 1 vitória e 1 derrota
  • Colocação Final: 5º entre 16 seleções

Observação: O Mundial diminui de tamanho, saem 6 equipes e temos 16 selecionados
para os duelos na Argentina.

1992 – Jogos Olímpicos de Barcelona

Seleção dos EUA nos Jogos Olímpicos de 1992, em Barcelona

Seleção dos EUA nos Jogos Olímpicos de 1992, em Barcelona

Campanha: 8 jogos – 4 vitórias e 4 derrotas.

  • Vencemos: Alemanha (85 x 76), Angola (76 x 66), Porto Rico (96 x 94) e Austrália (90 x 80)
  • Perdemos: Croácia (93 x 76), Espanha (101 x 100), EUA (127 x 83) e Lituânia (114 x 96).

Saldo:

  • Contra Europeus: 4 jogos – 1 vitória e 3 derrotas
  • Contra Africanos: 1 jogo – 1 vitória
  • Contra Americanos: 2 jogos -1 vitória e 1 derrota
  • Contra Oceânicos: 1 jogo – 1 vitória
  • Colocação Final: 5º entre 12 seleções

Observação: Em um grupo com Croácia, EUA, Alemanha, Angola e Espanha, fomos
a única seleção a perder para a Espanha na primeira fase. Saímos dessa fase com
2 vitórias e 3 derrotas, o que nos credenciou a jogar com a Lituânia nas quartas e
perdemos mais uma vez, para novamente sermos os “reis” do torneio de consolação e
ficarmos em quinto lugar.

1994 – Mundial do Canadá

Campanha: 8 jogos – 2 vitórias e 6 derrotas.

  • Vencemos: Cuba (82 x 76) e Alemanha (93 x 71)
  • Perdemos: China (97 x 93), Espanha (73 x 67), EUA (105 x 82), Alemanha (96 x 76), Angola (79 x 78) e Espanha (90 x 85)

Saldo:

  • Contra Europeus: 4 jogos: 1 vitória e 3 derrotas
  • Contra Africanos: 1 jogo: 1 derrota
  • Contra Asiáticos: 1 jogo: 1 derrota
  • Contra Americanos: 2 jogos: 1 vitória e 1 derrota.

Colocação Final: 11º lugar entre 16 seleções.

Observação: Quarto lugar na primeira fase em um grupo com China, EUA e Espanha,
onde vencemos ninguém e passamos para o torneio de consolação com a décima
terceira campanha entre dezesseis seleções, porém, diferentemente de 2006, nós tivemos
a chance de jogar outros jogos para chegarmos em décimo primeiro lugar. Atenção para um detalhe, vencemos apenas dois jogos no Mundial e ficamos à frente da Alemanha,
que venceu 5 jogos, Coréia do Sul e Cuba que venceram 3 jogos. Evidentemente, esses países venceram
os jogos “errados”. Em vitórias, ficamos à frente apenas de Angola (1 vitória e sobre
nós) e Egito, também uma vitória. Até então, nossa pior campanha na história em um
Mundial.

Jogos Olímpicos de Atlanta – 1996

Oscar Schmidt disputando sua última Olímpiadas, em 1996

Oscar Schmidt disputando sua última Olímpiadas, em 1996

Campanha: 8 jogos – 3 vitórias e 5 derrotas

  • Vencemos: Porto Rico (101 x 98), Coréia do Sul (127 x 97) e Croácia (80 x 74)
  • Perdemos: Grécia (89 x 87), Austrália (109 x 101), Iugoslávia (101 x 82), EUA (98 x 75) e Grécia (91 x 72)

Saldo:

  • Contra Europeus: 4 jogos – 1 vitória e 3 derrotas
  • Contra Americanos: 2 jogos – 1 vitória e 1 derrota
  • Contra Asiáticos: 1 jogo -1 vitória
  • Contra Oceânicos: 1 jogo – 1 derrota

Colocação Final: 6º entre 12 seleções.

Observação: Brasil quarto lugar em grupo com Iugoslávia, Austrália, Grécia, Porto
Rico e Coréia do Sul. Ficamos nessa posição, novamente, vencendo a “baba” asiática
e Porto Rico. Ao perder para Austrália e Grécia, nos credenciamos às quartas de finais
para enfrentar a seleção dos EUA. Depois, começamos a jogar para valer o torneio de
consolação, mais uma vez.

Saldo Final entre 1980 e 1996:

Jogos: 70 jogos – 34 vitórias e 36 derrotas.

  • Contra Europeus: 36 jogos – 12 vitórias e 24 derrotas
  • Contra Asiáticos: 7 jogos – 6 vitórias e 1 derrota
  • Contra Americanos: 16 jogos – 10 vitórias e 6 derrotas
  • Contra Africanos: 5 jogos – 4 vitórias e 1 derrota
  • Contra Ocêanicos: 6 jogos – 2 vitórias e 4 derrotas
  • Jogos definidos entre 5 pontos ou menos: 17 jogos – 6 vitórias e 11 derrotas
  • Jogos contra Iugoslávia, EUA e URSS: 18 jogos – 1 – 17*

*Vencemos a Croácia, a única vitoria sobre potência no intervalo entre 80 e 96.

  • Diferença de placares contra EUA: -16 pontos em 80, -25 pontos em 88, -44 pontos em 92, -23 pontos em 94 e -23 pontos em 96
  • Difereça de placares contra URSS: -21 pontos em 80, -7 pontos em 82, -9 pontos em 86, -5 pontos em 88, -10 pontos em 90, -18 em 92 (Lituânia)
  • Diferença de placares contra Iugoslávia: -1 ponto em 80, -3 pontos em 84, -26 pontos em 86, -19 pontos em 90, -17 pontos (Croácia) em 92

Totalizamos, contra as potências da época, no intevalo de 16 anos (80 à 96), apenas 4
jogos realizados com menos de 5 pontos de vantagem ou desvantagem. Perdemos 3 e
vencemos 1. Lembra bastante o desempenho do Mundial de 2010, não ? Será que nos
outros três jogos, faltou “culhão” para decidir ?

Logo, depois desta captura de dados sobre nossa seleção entre 1980 e 1996,

podemos observar que éramos:

  • Reis do Torneio de Consolação. Quando valia de quinto à oitavo lugares, éramos favoritissimos ao quinto. Quando valia o jogo das quartas de finais, bem, aí mudava de figura e entrava o “culhão” na cena, ou falta dele.
  • Os ultra vencedores contra times pequenos. Com todo o respeito, das nossas 34 vitórias neste período, 10 delas vieram contra times africanos ou asiáticos. Ou seja, quase 30% das nossas vitórias vieram contra ninguém. Contra a Austrália, por exemplo, em seis jogos conseguimos apenas duas vitórias neste intervalo. Ou seja, quando o desafio era um pouco maior, a vitória não era certa como teimam em dizer alguns defensores dessa época.
  • Derrotados na maioria das vezes pelos europeus. Afinal 12 vitórias em 36 jogos, não nos credenciava a nada. Provavelmente, viámos europeus pela frente e perdíamos, como a geração de torcedores da década 2000 em diante se acostumou. Meus caros, não era diferente entre 80 e 96. Era mais ou menos, o mesmo que estamos acostuamados.

Então, qual a diferença para hoje ?

Conseguíamos nos impor, às vezes, sobre Porto Rico, Panamá, Cuba e alguns europeus como Itália, Espanha e Grécia. O torneio olímpico, de tiro curto, onde você vai à semi final ou disputará algo que não vale absolutamente nada, o torneio de consolação. Logo, ser quinto ou décimo, pela lógica de muita gente aqui no Brasil seria mais ou menos a mesma coisa.

Em 5 Olímpiadas, entre 80 e 96, nunca fizemos uma semi final, será que
faltou “culhão” também a toda essa geração? Nos Mundiais, excluindo a possibilidade do terceiro lugar em 86, em todos os outros caíamos quando era necessário a vitória de qualquer jeito. Ainda assim ficamos em quarto perdendo, mais uma vez, o terceiro lugar.

Ou seja, no vencer ou vencer, perdíamos e o quinto lugar nos esperava e nos consolava com ar de: “no próximo torneio estaremos lá no podium” que não chega há 30 anos.

Porém a realidade era muito mais dura do que poderíamos supor. Não conseguiamos fazer jogos equilibrados com os melhores times da época: URSS, Iugoslávia e EUA. E quando fazíamos, perdíamos invariavelmente. Faltou “culhão” também ?

Conclusão

Wlamir Marques, expoente da maior geração do basquete brasileiro

Wlamir Marques, expoente da maior geração do basquete brasileiro

É simples concluir que nossa melhor geração é a geração de Wlamir Marques e
Amaury Passos. Esta sim, é a nossa verdadeira geração vencedora e tem que ser
referência em qualquer quadra de basquetebol dentro do nosso país.

Entre 1980 e 1996, as derrotas estiveram mais presentes do que as vitórias,
principalmente nos momentos chaves, aqueles que não poderíamos perder. Como parte
desta geração foi bronze nas Filipinas, podemos considerar este,
como último grande resultado do basquetebol masculino e jogando contra equipes
de alto nível. Ainda que, naquele torneio, não vencemos nem URSS, nem Iugoslávia,
entretanto, vencemos os EUA por 92 x 90. Mais uma vez, em jogos contra potências,
perdemos mais do que vencemos.

É simples reclamar, falar bastante, questionar o que falta para a
nossa seleção neste Mundial. Não dar valor, nem crédito ao trabalho feito e ao nono
lugar em que ficamos, principalmente fazendo três jogos parelhos com grandes times do
cenário atual e vencendo uma Croácia por um placar que não fizemos nos mesmos, em
momento algum da história deste confronto.

Porém, muito mais do que isso, é bom voltarmos ao passado e tirarmos uma
pequena amostra, de que não éramos mágicos e nunca fomos nos últimos 30 anos,
que também caíamos nos maiores desafios e raramente, conseguíamos fazer jogos
equilibrados contra as potências da época. E dos raros que fazíamos, perdíamos mais do que ganhávamos.

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