Um jogador americano no Irã

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Publicado em: 4/02/2013

Quem é Kevin Sheppard? Kevin faz parte da legião de jogadores americanos que se aventuram pelo mundo para jogar basquete. Durante sua carreira, de 2003 até 2011, jogou, entre outras, nas Ligas da Venezuela, Israel, Argentina, China e Irã. E foi sua passagem pelo Irã – país tão odiado e, ao mesmo tempo, desconhecido pelos ocidentais – que gerou um documentário, dirigido por Till Schauder, chamado “The Iran Job”.

Eu não vi o filme, até agora só foi exibido em alguns festivais pelo mundo. Tem estréia prevista para fevereiro nos EUA, sinceramente não sei se chegará a ser exibido em algum cinema aqui por essas bandas, tomara que sim, pois o trailer e as resenhas que tenho lido indicam se tratar de um filme bastante interessante:

Till Schauder resolveu acompanhar um ano na vida de Kevin Sheppard quando este jogava pelo A.S. Shiraz em 2009, time da liga iraniana de basquete. Ele se interessou pela história ao saber que alguns jogadores americanos, que já haviam jogado no Irã, estavam sendo investigados pelo governo dos EUA por terem, supostamente, violado o embargo econômico ao receberem salário nos times iranianos que defenderam. Sem conseguir visto de jornalista, Schauder combinou tudo com Kevin Sheppard, pegou seu passaporte alemão e entrou no Irã com visto de turista e um número reduzidíssimo de equipamentos.

O diretor quis filmar o contato de um americano com os cidadãos do Irã e como a realidade mostra-se completamente diferente daquilo que a mídia afirma. Em entrevista a CNN Sheppard disse o que pensava antes de embarcar: Se eu chegasse lá e todas as coisas fossem como os jornais diziam: armas de destruição em massa e pessoas loucas, eu apenas pegaria o próximo vôo e voltaria para casa”. Mas obviamente as coisas não se passaram dessa forma, lá encontrou um time muito aplicado, fãs fanáticos, fez amigos e tomou contato com a situação social e política do país.

A partir da visão de um carismático jogador americano negro de basquete, “The Iran Job” coloca em foco a situação das mulheres no país através do contato de Sheppard com três amigas iranianas, busca discutir questões religiosas, situa o jogador no meio do Movimento Verde de 2009 (série de manifestações que contestaram a eleição presidencial de Ahmadinejad), mostra situações divertidas geradas no contato de um americano com os populares locais (é possível ver algumas no trailer, como a cena em que um senhor afirma ter fumado maconha nos EUA) e, claro, também aponta a câmera para a relação do jogador com seus companheiros de time.

No fim do filme, segundo o Washington Post, Sheppard faz o seguinte comentário: “Como um afro americano, eu sei o que significa lutar pelos seus direitos. Jogando no Irã, você não está apenas jogando basquete, você tem um efeito na vida das pessoas, e você pode ver isso, porque você está convivendo com elas”. É notável a mudança de “lá só tem terrorista” para “são pessoas lutando por seus direitos civis”.

Enfim, sei que há muitas pessoas que não gostam, mas eu sinceramente acho que atletas profissionais, de qualquer modalidade, podem sim se envolver na política – seja em qualquer uma de suas formas de manifestação: apoiando seu candidato preferido, se candidatando a cargo de deputado, levantando o punho com uma luva negra nas olimpíadas, ganhando uma prova de atletismo diante de um ditador, instituindo uma democracia direta nos moldes gregos em um time de futebol, participando de um documentário ou organizando uma associação de jogadores. Pois o esporte faz parte da sociedade. O esporte não é para ser o ópio do povo, ele pode ser instrumento de transformação política. O atleta pode dar voz e visibilidade a um conjunto de idéias. E me parece que um dos objetivos do diretor do filme e de Kevin Sheppard, valendo-se do cinema e do basquete, seja mudar um pouco a percepção do ocidente, principalmente dos americanos, sobre o Irã e, talvez, influir nas políticas americanas direcionadas àquele país. Bastante pretensioso, mas quem sabe aonde a arte e o esporte podem chegar?

Agora é aguardar e torcer para que o filme chegue em algum cinema tupiniquim.

Mais informações: http://www.theiranjob.com/

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