Um dia histórico

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Publicado em: 13/07/2010

Por Henrique Lima

Desde quando tinha dezessete anos ouço dizer do Tiago Splitter. Faz dez anos. Lembro até hoje que alguém, em algum treino perdido no passado, falou que um menino catarinense ia para Espanha jogar basquete e era mais novo do que nós. Houve certo espanto mas ficou somente nisso, continuamos a treinar.

A partir de então, tentei acompanhar como pude a carreira deste guri. Claro que naquela época conseguir informação, era um milagre. Mas logo em 2002, Splitter já estava na Seleção Adulta disputando o Mundial de Indianapólis. Então, não era de surpreender que o garoto era mesmo de outro nível e que fazia o dever de casa, no dia-a-dia, ou seja, treinava muito.

Com a melhora significativa de informação, principalmente atráves da internet, descobrir o que se passava com Splitter já não era tão complicado, logo a torcida por sua carreira aumenta sempre. Estava em uma equipe forte na Espanha, badalada e jogava com caras excepcionais. Não estava em um time qualquer, estava no Tau Cerámica.

Enquanto os títulos com o Tau eram quase que anuais, as jornadas com a Seleção eram frustrantes, como no Mundial de 2006, Pré – Olímpico das Américas de 2007 e Pré – Olímpico Mundial de 2008. Enquanto outros atletas da nossa seleção não respondiam às convocações por mil motivos, assistíamos sempre Tiago na quadra servindo a Seleção, se doando à cada posse de bola e servindo de exemplo para todos os que gostam de basquetebol (ainda mais para os jovens) pela competência, seriedade, educação, liderança e responsabilidade em quadra, nas entrevistas e nos treinamentos.

No Draft de 2007, o San Antonio Spurs (sempre estes caras) recruta na vigésima-oitava escolha o nosso pivô. É incrivel pensar que caras como Jason Smith, Sean Williams, Julian Wright, Brandan Wright e porque não Yi Jianlian ficaram todos à frente de um ala pivô com experiência de dois campeonatos mundiais e inúmeros minutos em liga adulta (não universidades, escolas, projetos de bairro ou ligas chinesas de nível discutivel). Spurs novamente passava a perna no resto da NBA e poderia sorrir à toa. Como não precisava do atleta com urgência, pode aguardar e ter paciência além de claro, acompanhar o que ele faria e montar um plano para traze-lo aos EUA.

Com a saída de Luís Scola do Tau para a NBA, Splitter assumiu de vez a condição de estrela maior da equipe espanhola e não decepcionou. Evoluindo a cada ano seu jogo (em especial melhorando seu recurso ofensivo), Splitter chegou ao seu auge dentro do basquetebol espanhol nesta temporada que acabou. Foi eleito para o quinteto ideal da ACB. Logo depois, venceu o prêmio de Melhor Jogador da Temporada e após vencer o Barcelona (atual Campeão Europeu) , sem o mando de quadra e em indiscutíveis 3×0, o brasileiro levou o trófeu de MVP das Finais para casa. O último cara na Espanha a conseguir tal feito (MVP da temporada e MVP das finais fora o super-pivô lituano Arvydas Sabonis).

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10 anos se passaram desde quando falaram comigo sobre tal guri. A curiosidade para saber como ele jogava, se era bom de fato, o que poderíamos imaginar, como seria na Seleção, passou à torcida na mesma proporção em que o atleta demonstrava paixão pelo jogo e gana para fazer o seu melhor, mesmo nas campanhas decepcionantes de nosso selecionado.

Hoje, dia 12 de julho de 2010, o catarinense assinou com o San Antonio Spurs um contrato de três anos. Ganhará menos dinheiro do que conseguiria na Espanha. Ele não se importa. A motivação não é financeira. Entenderia se fosse, porém a motivação é o jogo. Vai atuar ao lado de vencedores, de campeões. Jogará ao lado de Tim Duncan, dos melhores jogadores da sua posição em todos os tempos. Com certeza o melhor deles ainda em atividade. Jogará com Manu Ginobili, que como Splitter, veio para a NBA após tantas glórias na Europa e conseguiu sucesso na liga norte-americana, um vencedor nato, campeão olímpico, campeão de tudo na carreira. Será comandado por Gregg Popovich, técnico de carreira brilhante na NBA e dos mais abertos aos estrangeiros dentro de uma liga que ainda não sabe utilizar todo potencial de quem vem de fora. Se estes são alguns dos motivos do pivô em aceitar o Spurs, a franquia tem ainda mais em traze-lo agora para o seu elenco.

O Spurs adiciona um trabalhador. Adiciona uma líder dentro e fora das quadras. Alguém que não joga o basquetebol somente pelos prazeres adicionais que este concede após certo momento de uma carreira bem sucedida. San Antonio sabe que o pivô brasileiro fará de tudo para dar continuidade ao legado vencedor da franquia. Além disso, temos o fato de que Tim Duncan acabou de fazer trinta e três anos. Não é mais um garoto. O time texano tinha que pensar urgentemente em uma saída e utilizou a mesma que deu certo 13 anos atrás, ou seja, achar o cara certo para substituir um ídolo. Assim como David Robinson só pode ‘’descansar’’ quando Tim Duncan, este poderá tranquilizar quando Splitter pisar na quadra. A franquia do Spurs já tem vinte anos de pivôs de primeiro escalão jogando, entra ano, sai ano, dentro de seu ginásio. Com Splitter, a possibilidade é que chegue aos trinta anos seguidos desse feito, que seria íncrivel. Oportunidade como esta não passa duas vezes no mesmo lugar. O Spurs não dormiu no ponto.

Desde 1968, apenas dez caras utilizaram a camisa número 22 do Spurs. Hoje assistimos o décimo primeiro desta lista a vesti-la. E como vamos torcer para ele ter sido o último a poder honra-la na história da franquia. Hoje com certeza foi um dia histórico.

Henrique Lima é técnico em Betim-MG e faz parte da equipe do Draft Brasil.

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