Pecando pelo excesso

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Publicado em: 14/10/2013

Como jogador, Oscar Schmidt se consagrou como um dos arremessos mais precisos – e treinados – da história do basquete. Por tudo que conquistou durante sua longa e vitoriosa carreira, é justo ser alçado ao nível dos grandes ídolos do esporte no Brasil.

Contudo, assim como várias outras lendas esportivas no país, quando está sob os holofotes da mídia, Oscar profere declarações polêmicas com a mesma facilidade que tinha para encestar. E parece que, nos últimos tempos, a capacidade do Mão Santa para polemizar está cada vez maior.

Em sua última aparição pública, no primeiro jogo da NBA no Brasil disputado entre Chicago Bulls e Washington Wizards e ocorrido no último dia 12, Oscar mais uma vez voltou a criticar o pivô e anfitrião da partida Nenê Hilário e o ala Leandrinho.

“Não quero vê-los perto de mim. O povo entende de tudo, não precisa falar. Estou falando especificamente de Leandrinho e Nenê. O Tiago (Splitter) tem todo direito de pedir dispensa, está até machucado. O Anderson (Varejão) já fez m… no passado e agora é um menino decente. Agora Leandrinho e Nenê de novo deram um calote no país. É o Brasil que está vaiando eles. Não me fale de Brasil no seu discurso, não fale do meu país”, afirmou o ex-jogador.

Sobre os pedidos de dispensa, estes já foram discutidos até a exaustão. Qualquer um que acompanhe o basquete um pouco mais a fundo (como os presentes na HSBC Arena) compreende que, lesionados, Nenê e principalmente Leandrinho não teriam condições de estarem aptos e saudáveis para disputarem a Copa América.

Nesse contexto, as vaias do público contra Nenê foram consequência da incapacidade – ou falta de interesse – do pivô em se comunicar e relacionar com seus fãs, desempenhando o papel de ídolo que ao meu ver Nenê nunca quis para si. Com nove pedidos de dispensa em doze convocações, o são-carlense não foi capaz de criar e consolidar uma empatia dos fãs de basquete no país. Ademais, como bem destacou Alfredo Lauria no Basketeria, o torcedor de hoje, muito melhor informado do que antigamente, não engole mais ídolos com os quais não se identifica.

Nenê criticou vaias recebidas na HSBC Arena. Foto: Wendell Ferreira/Agência RBS

Nenê não aceitou bem as vaias recebidas na HSBC Arena. Foto: Wendell Ferreira/Agência RBS

Mas se Nenê prefere ficar distante dos holofotes, o mesmo não pode ser dito de Oscar. Quando questionado sobre as vaias a Nenê, o Mão Santa foi enfático: “O povo está sempre certo. Concordo com a postura do povo. Eu estou vaiando eles há anos. E hoje o povo se manifestou aqui sozinho, não precisou ninguém pedir. O público entende, o público gosta de seleção brasileira”, declarou.

Inversamente, enquanto o pivô do Wizards erra em se omitir, o ex-ala peca pelo excesso. Se Oscar não quer ver Nenê perto dele, em 2003, ano da aposentadoria do Mão Santa das quadras, seu discurso era outro. Na ocasião, o maior cestinha da história do basquete considerava o pivô, então na sua primeira temporada na NBA, como o próximo ídolo do basquete nacional. O inusitado fato pode ser visto na entrevista de despedida de Oscar para o Estadão:

Herança – Humilde, Oscar fez questão de citar o pivô Nenê, do Denver Nuggets, como o próximo ídolo do basquete nacional. Exaltou o “bom caráter” e a “boa índole” do jovem atleta. Além de lamentar que, o pouco espaço para o basquete no Brasil, não permite a criação de novos ídolos dentro do País. “Fico feliz por não estar deixando um buraco para trás.”

Como podemos ver, até mesmo Oscar acreditava que Nenê poderia se tornar um ídolo nacional. Se o pivô preferiu seguir um rumo diferente em sua carreira, isso cabe exclusivamente ele e deve ser respeitado. Ao contrário do que diz Oscar hoje (mais preocupado em se autopromover do que qualquer outra coisa), nenhum atleta tem a obrigação de se apresentar para a seleção, ainda mais se requisitado pela equipe na qual trabalha e paga seus salários. O próprio Oscar já adotou postura semelhante no passado, mais especificamente em 1983, quando pediu dispensa da seleção que iria disputar o Pan-Americano de Caracas pois seu clube na Itália solicitou seus serviços.

Entretanto, deixar de lado o “bônus” de vestir a camisa do Brasil como fez Nenê tem seu ônus, neste caso entoado em alto e bom som pelos torcedores brasileiros presentes na HSBC Arena no sábado.

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