Ouro de tolo?

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Publicado em: 27/10/2011

Após um tempo de ausência para me adaptar a nova função (ainda editor do Draft Brasil e agora colunista do Basketeria), confesso não ter assunto melhor para voltar as famosas discussões do DB do que essa seleção brasileira no Pan-Americano. Rubén Magnano (de ótimo trabalho até agora) convocou um time com alguns nomes consagrados do cenário nacional, alguns jovens e poucas inovações. A pergunta que fica é se a decisão foi ou não acertada, afinal, uma medalha de ouro aqui valerá mais que um possível desenvolvimento de jovens jogadores visando competições mais importantes (e complicadas) do futuro?

Alguns irão afirmar que há sim uma boa quantidade de jovens (Felício, Davi, Bruno Irigoyen, Benite e Hubner). Outros irão calcular que a média de idade da seleção é de pouco mais do que 25 anos por jogador, entretanto, quero me focar em coisas que os números não mostram, ou melhor, não mostram pelo menos sem uma análise detalhada. A questão não é levar alguns jogadores jovens, nem ter uma média de idade considerada baixa. O que me preocupa é quanto espaço os garotos realmente terão, afinal, treinar e participar da seleção já é um aprendizado e tanto, mas nada se compara ao jogo, ao duelo de campeonato e a experiência em nível internacional. Até que ponto vale assistir Nezinho jogar 30 minutos com 30 anos enquanto Davi acumula 3 minutos com seus 19 verões. E Marcelinho Machado com 36 anos sendo a válvula de escape de sempre em um torneio que a grande maioria de times levou garotos? Sem se esquecer dos 35 minutos de quadra do Guilherme para 3 do Felício. Ainda tem o Bruninho jogando muito pouco enquanto Arthur não rendia na posição e outras coisas que preocupam. Deixo a pergunta: Esse ouro é de tolo?

Para mim (e convido todos a participarem da discussão) é. Não estou criticando a convocação de jogadores experientes, renomados e que ajudam e muito essa seleção. Estou criticando o objetivo do Brasil no torneio. É um ouro pan-americano a qualquer custo? É o que parece vendo os minutos de quadra da vitória apertada de hoje contra o Uruguai. E ainda se fosse contra um Uruguai com Esteban Batista, Leandro García Morales, Mauricio Aguiar, Panchi Barrera, aí alguém poderia dizer que os veteranos eram essenciais para não se complicar contra a experiência dos celestes. Mas não, estamos falando de um jogo entre uma seleção brasileira de nível considerável (e seria mais se Alex Garcia, nosso melhor jogador no momento, não tivesse pedido dispensa) contra um apanhado de garotos uruguaios com diversas trajetórias (sem Jayson Granger, nascido em 1989 e já na ACB espanhola a várias temporadas).

Vimos o Brasil suar, se enrolar, utilizar pouco os garotos. Tudo isso contra Bruno Fitipaldo, Nicolás Borsellino, Federico Haller, Joaquín Osimani, Iván Loriente e até Hernando Cáceres (nascido em 1994). Não é possível que Davi não possa enfrentar Fitipaldo, Felício Borsellino e Irigoyen o novato em seleções uruguaias Haller. Por sinal, Cáceres de apenas 17 anos jogou os mesmos 2 minutos que a maioria dos garotos brasileiros, sendo que é um jogador que ainda não tem minutos fixos no time profissional do Trouville. Loriente (1992) atuou 10 minutos, marcou Machado, cresceu. Fitipaldo (1991) engoliu Nezinho enquanto Davi via tudo do banco. Foi cestinha, já participou do Pré-Olímpico e começa a se tornar potência continental. E os uruguaios queriam mais. Mathías Calfani lesionado também deveria estar lá, seriam mais minutos para os jovens celestes.

A pergunta continua no ar: Creio que esse ouro não é o mais importante em um torneio claramente menor. O importante são os minutos, o desenvolvimento, a confiança que os jogadores podem adquirir. A grande maioria dos minutos da seleção foi consumida por jogadores acima de 27 anos. Alguns deles já mostraram que não irão evoluir e não passam de opções de décimo segundo jogador para torneios importantes (outros nem isso). Exceção feita a Hubner e Benite (que já tem confiança suficiente e rodagem internacional) nada de novo foi visto na partida mais fácil do Pan-Americano. Do outro lado, Martín Osimani e Reque Newsome (ambos com 30 anos) foram meramente companheiros de um time que conta com 6 jogadores que são fichas sub-23 na LUB (metade do elenco). Além disso, três garotos uruguaios (Cáceres, Loriente e Fitipaldo) jogaram mais que o triplo do que os garotos brasileiros. Com números assim, não sei até que ponto vale pro futuro uma vitória que nem essa.

Espero que nas próximas batalhas alguns garotos ganhem mais minutos, afinal, é impossível que nesse nível Davi e Bruno rendam tão pouco que não possam tirar minutos dos consagrados e já estagnados Arthur e Nezinho.

Raoni Moretto
raoni@draftbrasil.net

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