O sonho cruel da realidade (Parte 2)

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Publicado em: 2/07/2013

Como todos sabem, está sendo disputada em Praga, na República Checa, mais uma edição do mundial juvenil. E a campanha nada animadora do Brasil na primeira fase – vitória esperada sobre o Senegal e derrotas para a Sérvia e Austrália (nestas duas partidas, anotou míseros 95 pontos), motivo mais que suficiente para fazer a sirene que anuncia as tragédias do basquete brasileiro tocar mais uma vez com toda a força. Na trilha sonora, vários “flashbacks”: “chutamos muito de 3”, “nossa base está sucateada”, “nossos técnicos estão desatualizados”, etc. Tudo isso tem que ser levado em conta e obviamente para um esporte que tenta há um bom tempo se reconstruir, ter desconfiança sobre a qualidade do alicerce não é boa coisa. Porém, não vejo nada de surpreendente nos resultados até o momento, afinal, Sérvia e Austrália eram as favoritas do grupo e estão entre as candidatas para subirem ao pódio da competição, ao contrário do Brasil, que mesmo que cumpra o objetivo estabelecido por seu treinador de ficar entre os 4 primeiros colocados, ainda continuará pertencendo à categoria dos azarões. E mesmo que viesse um título, não alteraria muito o maior problema das nossas divisões inferiores – a transição juvenil – profissional (combinamos aqui que não dá mais para chamar de “adulto”).

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A seleção brasileira sub-19 está disputando o Mundial em Praga (CZE) entre os dias 27/06 a 07/07.

Em 2011, pouco antes da estreia do Brasil no mundial juvenil daquele ano, Guilherme Tadeu, no então blog Giro no Aro escreveu a “parte 1” deste artigo (clique aqui para ler) sobre os jogadores que defenderam o Brasil no mundial juvenil de 1999 e qual a situação de cada um deles após 12 anos do torneio. Na conclusão do texto, Guilherme afirma temer escrever um artigo semelhante em 2021, sobre o futuro dos jogadores daquela seleção. Na época fiz um comentário que talvez não fosse necessário esperar até 2021, pois outra geração, a que tinha disputado o mundial juvenil de 2007 (terminou em 4ª lugar, melhor resultado do basquete masculino em uma competição mundial desde 1986) dava indícios que, como suas antecessoras, entraria no moedor de talentos do basquete brasileiro. Seis anos depois, quando os jogadores daquela seleção (veja aqui) estão entre os 24/25 anos e entrando no auge físico e mental, vamos analisar como anda a carreira dos 12 atletas:

Melhor defensor do elenco (Patrick Mills que o diga), Cauê Verzola participou das 3 primeiras edições do NBB defendendo Franca e Assis. Em 2012 foi para o Rio Grande do Sul onde defendeu o Bira de Lajeado na Copa Brasil. No 2º semestre do mesmo ano retornou a São Paulo onde jogou a série A2 pelo Lins Basquete. No começo de 2013, retornou ao Sul do país, onde disputou a Copa Brasil por Caxias do Sul. Trajetória muito parecida com o ala Bruno Ferreira, revelado pela extinta equipe da Uniara, que depois de um tempo nos EUA, uma breve passagem por Rio Claro vem sendo companheiro de time de Cauê – ambos passaram por Lajeado, Lins e Caxias do Sul. Bruno nunca disputou uma edição do NBB. Quem também nunca chegou a disputar uma edição do NBB foi o pivô Carlão, revelado pela Uniara, outro que foi para os EUA. Na volta, disputou duas edições do campeonato paulista, primeiro por Rio Claro (2011) e depois pelo Internacional de Santos (2012). Este ano, defendeu o Ginástico de Belo Horizonte, na Copa Brasil.

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Cauê Verzola participou das 3 primeiras edições do NBB defendendo Franca e Assis.

Outros 2 jogadores que estavam naquele grupo e que também passaram algum tempo nas divisões menores do basquete universitário dos EUA, fizeram sua estreia na principal competição nacional na temporada 2012/2013. O armador Henrique, que participou do NBB defendendo o time de sua cidade natal, Joinville, com médias bem modestas: 3,1 pontos, 1,0 assistência e 14,6 minutos por jogo e o pivô Romário, que defendeu Franca, também de forma bem discreta (3,5 pontos, 2,1 rebotes e 11 minutos). Para a próxima temporada, Henrique aguarda a decisão de Joinville de continuar ou não, e Romário transferiu-se para o recém-promovido Macaé.

O jogador menos utilizado daquele time, o ala-pivô Rodrigo, é um dos 3 jogadores que disputaram todas as edições do NBB (os outros foram Rafael Mineiro e Betinho) onde seguiu a rotina de entrar pouco em quadra. Depois de 4 anos no Minas, o jogador se transferiu para o Vila Velha nesta última edição. Participou apenas de 7 jogos.

No grupo dos que parecem ter encerrado a carreira estão o armador Zezinho, que jogou por Franca, Londrina, Assis e Araraquara e desde o fim da última edição do NBB desapareceu do mapa. Outro que sumiu foi o promissor ala Thomas Melazzo. Titular no mundial de 2007, o jogador terminou a competição com média de 10 pontos (nosso terceiro cestinha) e era, até pelas qualidades físicas (2,02 m) uma esperança natural para ocupar uma das posições mais carentes do basquete brasileiro na seleção principal. Depois de perambular por Paulistano, Palmeiras e Joinville (seu último clube, no NBB 4) parece não estar mais jogando basquete profissionalmente.

Dos que estão em um nível de competição aceitável, Carlos Cobos permanece na Espanha, onde se formou como jogador (com pai espanhol e mãe brasileira, parece não ter qualquer identificação com o Brasil). Revelado nas canteiras do Unicaja Malaga, ainda não se estabeleceu na liga ACB. Na temporada 2012/2013 defendeu o Breogan Lugos na Leb Ouro (2ª divisão). Seus números estão aqui.

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Carlos Cobos permanece em um nível de competição aceitável, jogando pelo Unicaja (ESP).

E por fim, o trio Paulão Prestes, Betinho e Rafael Mineiro, que são os jogadores que hoje têm mercado assegurado na liga e que podem aspirar alguma coisa em termos de seleção brasileira. Paulão tem uma nova oportunidade de colocar uma carreira que parecia brilhante nos trilhos (escrevi a respeito aqui) agora que voltará a jogar sob o comando de Lula Ferreira em Franca. Os outros 2, depois de patinarem entre altos e baixos, tiveram a temporada mais consistente de suas carreiras (aqui e aqui), o que lhes deve render uma observação mais próxima de Ruben Magnano.

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O trio formado por Paulão Prestes, Betinho e Rafael Mineiro, têm mercado assegurado no NBB.

Se acreditar que os 12 jogadores daquela equipe fossem se tornar protagonistas da bola laranja no país é exagero, ter só 3 deles (Carlos Cobos, pelas razões explicadas acima, não conta) atuando em um nível de competitividade aceitável e, 2 já com as carreiras encerradas é preocupante, ainda mais para um país que não pode desperdiçar uma gota de talento.

Que este artigo não tenha parte 3.

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