O brilho que não faz falta

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Publicado em: 23/08/2010

Equipe dos Estados Unidos em ação contra a Lituânia. (Foto: Getty Images)

A seleção dos Estados Unidos entrará em quadra no Campeonato Mundial para tentar retornar com um título que não ganha desde 1994. Naquele torneio, ainda sob a forte influência da reunião do Dream Tream de Barcelona-92, os norte-americanos fizeram uma equipe fortissima para levar o título mundial. A equipe tinha talentos do nivel de Isiah Thomas (machucado), Dominique Wilkins, Joe Dumars, Kevin Johnson, Saquille O’Neal, Mark Price, Alonzo Mourning e outros (comando técnico de Don Nelson). Conseguiram vencer aquele torneio sem grandes problemas, aplicando surras em pelo menos 5 jogos, contra Austrália, China, Grécia e Rússia duas vezes, sendo uma na final 137 x 91.

16 anos depois dessa grande reunião, feita com boa parte de atletas de elite da NBA, porém atletas de nível abaixo do time de 92 (exceto Wilkins e Thomas, porém este lesionado), vemos uma reunião similar ocorrendo para os jogos na Turquia. Após os jogos olímpicos de 1992, ninguém retornou para tentar ser campeão do mundo em 1994, ou seja, semelhante ao ocorrido na passagem 2008/2010. Reconhecidamente, a reunião de 2008 é a melhor feita nesta década pela cúpula norte-americana. Para 2010, várias tentativas de retornar com alguns olímpicos esbarraram em atletas negociando contratos, outros alegando cansaço e precisando de férias e mais alguns recuperando de lesões sofridas na última temporada. Saldo final, nenhum campeão olímpico vestirá a camisa da seleção no campeonato. Dessa forma, uma nova geração contando com boa parte dos atletas que são hoje o que a NBA tem de melhor (exceto os atletas do time de 2008) foi recrutada, treinou sério sob o comando de Mike Krzyzewsk, o famoso Coach K e tentará algo que em 1998, 2002 e 2006 seus compatriotas não conseguiram, levantar o troféu de campeão do mundo.

Rondo, um dos destaques da armação dos EUA (Foto: Getty Images)

Dentro de quadra, nos amistosos contra a França, há dois domingos, e contra a Lituânia, no último sábado, o que pudemos observar é um time baseado na defesa fortíssima e apostando tudo na explosão e resistência física dos atletas e principalmente, na rotação enorme que deverá usar na Turquia. Os ataques não são bem tramados, com pouca organização e o jogo coletivo carece de melhor estrutura fora da bola. O que nos permite dizer que, sem a bola, pouquíssimos jogadores dos EUA sabem o que fazer e em qual momento. Nestes amistosos, a geração norte americana ainda não mostrou brilho, embora seja um time muito eficiente e pragmático. Este brilho deverá vir de algumas jogadas individuais em contra-ataques e talvez em lances esporádicos de Kevin Durant, principal nome do time.

Coletivamente, é um time que jogará com apenas um pivô de ofício, Tyson Chandler, atleta limitado ofensivamente e com boa capacidade para recuperar rebotes e marcar presença com seus 2,16m no garrafão defensivo. Porém, em caso de excesso de faltas, não se sabe direito quem virá para socorrer o time. Lamar Odom e Kevin Love (este ainda na expectativa de um possível corte) são os outros dois alas altos do time, ambos com 2,08m. Acredito que eles poderão fazer a posição de pivô sem problema no lado ofensivo. A distribuição de jogo com passe de qualidade é uma das principais caracteristicas do ala do Los Angeles Lakers. Porém, na defesa tanto Love quanto Odom teriam problemas em parar gigantes como Marc Gasol, Robertas Javtokas, Ioannis Bourousis, Timofey Mozgov, entre outros.

Mike Krzyzewski, o responsável por comandar os EUA (Foto: Getty Images)

Não podemos esquecer que se de por um lado há a possível falta de gente no garrafão, por outro sobra na armação. Coach K começou os amistosos utilizando uma dupla armação com Billups e Rondo e assim manteve por todo tempo durante os jogos. Nesta formação, temos o que há de melhor na equipe. Transição rápida e bem feita, com atletas em boa posição de marcar pontos, organização impecavel, desde a recuperação do rebote defensivo até a definição com um dos alas. A dupla armação desta seleção garante a distribuição de bola de qualidade, poucos passes errados, poucas infrações cometidas por andadas (algo tão comum que virou habitual não ter infração marcada nos jogos da NBA, mas que são punidas como pede a regra nos jogos da FIBA) e penetrações não somente visando pontuar, mas também em quebrar defesas e distribuir.

Dos laterais, exceto Kevin Durant, podemos dizer que todos são mais do mesmo: pouca leitura de jogo, preocupações maiores em pontuar do que jogar para a equipe, atletas que não tem domínio total do drible em curto espaço e sob forte marcação e que causam pânico quando tem que fazer o papel de armadores. A especialização das posições na NBA somado ao tipo de jogo por lá feito (jogadas coreografadas) contribui para que a leitura de jogo e a preocupação com algo além de pontuar, cada vez diminua mais entre os laterais estadounidenses. Kevin Durant é a exceção por ser tecnicamente muito superior aos outros nomes, como Gay, Iguodala ou Granger. Embora seja um pontuador nato, Durant tem uma infinidade de recursos para atingir sua meta, diferentemente dos outros, que não dominam a técnica da mesma forma.

Algumas correções foram feitas em relação aos times passados, principalmente dos mundiais de 2002 e 2006. O chute de perímetro teve importância na montagem do elenco. Os norte-americanos perceberam que chutar de três pontos pode ajudar e muito, desde que bem feito e com equilibrio para a tarefa. Atletas com alto percentual de acerto neste quesito foram recrutados, como os armadores Stephen Curry e Eric Gordon.

Com atletas que fisicamente estão aptos e são extremamente velozes, agéis e com grande impulsão, a tentativa dos EUA em trazer de volta o título mundial se dará primeiramente no plano físico, passando pela defesa forte, pressionada e avançada sobre os armadores adversários e finalizando com um jogo ofensivo com dupla armação. O tripé de suporte deste selecionado será este.

Os dois amistosos mostraram que o time é forte, organizado e lutará pelo título mundial. É tão favorito quanto a Espanha, por exemplo. Mas a expectativa é que seja uma trajetória complicada e com jogos muito equilibrados. Os atletas terão de suar para vencer e podem sucumbir se deixaram o ego e arrogância, tão comum e infelizmente tão praticada por lá, falarem mais alto. Porém, se falta um brilho a mais neste elenco, parece não faltar treinamento, seriedade, compromisso e eficiência para resgatar o título mundial. E talvez este pragmatismo de Coach K & cia seja bem vindo e necessário para o time norte-americano. Deixa-los mais próximos da realidade e mais distantes dos sonhos pode fazer enorme diferença neste Mundial.

Por Henrique Lima

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