Entrevista: Paulo Bassul fala com exclusividade para o Draft Brasil

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Publicado em: 23/02/2008

Paulo Bassul, treinador do Colchões Castor/FIO/Unimed/Ourinhos e da Seleção Brasileira Feminina, concedeu entrevista exclusiva ao Draft Brasil. Respondendo perguntas sobre o nacional, categorias de base, basquete no Brasil e sobre o pré-olímpico mundial que acontecerá em Madri, de 9 a 15 de junho deste ano.

Sobre o nacional, quais são os ajustes que a equipe de Ourinhos vai fazer depois de uma série difícil contra o Sport?
São poucos ajustes. Basicamente a equipe não muda a filosofia de jogo que vem imprimindo desde o início da competição – defesa agressiva e jogo de transição. O que temos de adequar são algumas regras dentro dos mesmos sistemas para neutralizarmos os pontos fortes de Catanduva que são: o contra-ataque fulminante e o bom aproveitamento de longa distância.

Como você vê a popularidade que o basquete feminino tem no Brasil?
Acho que temos um grande problema de massificação ainda na nossa modalidade, ela ainda está muito restrita a São Paulo e uns poucos centros que investem nela. Temos uma lacuna nas faculdades no sentido de formação de bons profissionais para o basquete e – além disso – carecemos de uma política esportiva que incentive a prática dentro das escolas.

Clubes como o Sport, de grande e fiel torcida, fazem falta na competição?
Com certeza, os jogos em Recife nas últimas temporadas têm mostrado uma equipe sempre competitiva e a torcida dando um espetáculo a parte.

Quanto o basquete feminino pode evoluir?
Muito ainda. Sempre dependendo das ações de todos os envolvidos no processo. Internacionalmente temos conseguido nos manter bem ranqueados, mas o número limitado de praticantes e o êxodo precoce de atletas para o exterior estão prejudicando muito nosso basquete internamente. Mas sou otimista nesse aspecto e acredito que podemos dar um salto de qualidade.

As categorias de base no Brasil possuem profissionais qualificados para desenvolver os fundamentos do basquete nas nossas jovens jogadoras?
Acho que temos “ilhas” com papel importante na formação de atletas, mas o número de profissionais que considero realmente qualificados é muito reduzido.

Da última convocação do Luiz Tarallo para a seleção sub-18, alguma das meninas já vem sendo observada pela comissão técnica da seleção adulta?
Sempre estamos observando as atletas mais jovens e que tenham potencial para, assim que possível, podermos aproveitá-las na seleção adulta. Mas isso tem que ser feito de forma gradual e respeitando o processo de amadurecimento da atleta.

A seleção feminina obteve alguns bons resultados com um treinador considerado ultrapassado, agora com um treinador moderno como você a pressão vai ser maior? Como você lida com ela?
Independentemente de diferenças na filosofia ou no estilo de trabalho de cada um, temos sempre que respeitar e valorizar a contribuição que cada treinador da seleção deu para a modalidade. Assim foi com todos que me antecederam e eu espero poder dar minha contribuição também. Quanto à pressão por resultados isso está embutido na responsabilidade do cargo e é normal que seja assim. Agora estamos num momento de renovação de atletas e isso aumenta o grau de dificuldade, mas acho que o grupo é bom e pode se superar com muito trabalho, união e uma dose de paciência.

Até que ponto a espanhola Valdemorro vai ser uma pedra no sapato da seleção durante o Pré-Olímpico?
É uma grande atleta e pontua bastante quando atua pela seleção espanhola, mas nossa energia está em preparar bem nosso grupo porque “pedras no sapato” são o que não faltam numa competição deste nível e temos que estar prontos para enfrentar qualquer seleção. Nosso objetivo lá não é superar a seleção espanhola e sim garantir a vaga impondo nosso ritmo de jogo.

Taiwan já tem certa experiência contra seleções de fora do seu continente, a Bielorrússia foi a surpresa do último EuroBasket Feminino, qual das duas seleções deve passar a segunda fase – junto com Cuba – e qual deve complicar mais para o Brasil?
Devem se classificar Cuba e Bielorússia e um dos dois será nosso adversário no cruzamento para a vaga olímpica. São estilos diferentes de jogo (Cuba joga mais físico e em cima das duas pivôs – a Bielorússia uma jogo mais coletivo e tático), qualquer um dos dois será um adversário de qualidade, mas acredito na nossa equipe e acho que temos condições de buscar essa vaga.

Nos amistosos contra Cuba agora em Março, qual será o perfil da convocação, considerando que o Nacional acaba uma semana antes?
Convocaremos somente atletas que atuam no Brasil e teremos três objetivos nesta viagem:

– levar atletas que fazem o papel de coadjuvantes na seleção principal para observá-las tendo que puxar a equipe;

– incluir atletas que estejam num bom momento para ver se tem condições de representar o Brasil em competições internacionais;

– observar a seleção cubana que tem 50% de chances de ser nosso jogo decisivo no Pré-Olímpico e estará com sua seleção completa nestes amistosos.

Qual a importância desses amistosos considerando o provável cruzamento de Brasil e Cuba em Madri?
Enorme porque poderemos observá-los jogando com sua seleção completa e nós com uma equipe com poucas atletas que jogarão o Pré-Olímpico.

A seleção enfrentou algum problema para conseguir a liberação de jogadoras que atuam fora do país?
Esse é um problema constante, esse ano teremos sérios problemas para treinar o grupo para o Pré-Olímpico em função da WNBA que dificulta enormemente a liberação das atletas. Iziane e Érica já são nomes certos na Liga deles e ainda existe a possibilidade de mais alguma atleta participar. Essa é mais uma variável que teremos que superar.

Como funciona o projeto da seleção brasileira de novas? Será possível implantá-lo para o próximo ano?
É um projeto para dar mais experiência internacional para jovens atletas para, no momento que houver a necessidade de puxarmos alguma atleta para a seleção principal ela já estar pronta e não termos que passar pelo que aconteceu agora com a aposentadoria de algumas atletas e a vinda de atletas com pouca bagagem para a seleção. Estamos conversando com o Departamento Técnico da CBB para tentar colocar em prática o projeto, mas existem algumas dificuldades, dentre elas o fato de várias atletas jovens que poderiam participar deste projeto estarem indo precocemente para o exterior e ficando sujeitas às datas dos calendários desses países.

Qual é a posição mais carente hoje em dia na Seleção Brasileira?
Não digo que é uma posição carente porque temos duas excelentes atletas para exercê-la hoje (Adrianinha e Cláudia), mas penso que precisamos dar mais rodagem internacional para outras armadoras mais jovens para podermos já prepará-las para o pensando no futuro. Essa é uma função que tem que chegar madura na seleção, não pode chegar verde porque compromete o rendimento de toda a equipe. Quanto às laterais e pivôs temos jogadoras jovens e com bagagem internacional atuando na seleção o que nos dá um pouco mais de tempo para prepararmos meninas para reposição.

Com a aposentadoria da Janeth, podemos nos considerar num período de “entressafra” de jogadoras de alto nível?
De jeito nenhum! Janeth é fantástica e todos nós sabemos disso, mas outras atletas surgirão para carregar o piano. Cada uma com suas características próprias e não com o intuito de substituí-la porque isso não existe.

O que falta para a Iziane ser para a seleção o que foi a Janeth?
Como disse na resposta anterior ela não tem que ser para a seleção o que a Janeth foi simplesmente porque ela não é a Janeth. São atletas totalmente diferentes em todos os sentidos e é impossível compará-las. Iziane tem 25 anos e já é uma grande atleta de nível internacional sem sombra de dúvidas, mas tem uma longa estrada pela frente e muita disposição para trabalhar. Ela se dedica muito para aprimorar seu jogo e é uma “matadora” nata. O equilíbrio disso não é fácil de ser atingido. Jogadoras com a função de “matadoras” são sempre alvo da imprensa – um dia no céu porque matou bolas importantes numa partida decisiva e no outro no inferno porque errou as mesmas bolas. Com o amadurecimento a atleta vai aprendendo a lidar com tudo isso com menos ansiedade e a equilibrar melhor suas decisões na partida. Eu particularmente não gosto de comparações entre jogadoras porque respeito muito a individualidade delas.

Uma mensagem para os meninos e meninas, leitores do DraftBrasil, que estão entrando agora no basquete:
Trabalhem sempre com o maior empenho possível para testar seus limites em todos os sentidos. O basquete oferece inúmeras possibilidades de aprimoramento pessoal – você aprende a importância da coletividade, o respeito ao próximo e às regras, a lidar com o sucesso das vitórias e a frustração das derrotas com equilíbrio, a abrir mão de coisas pessoais em função de um sonho coletivo, ou seja, independentemente de se transformar futuramente num atleta de alto nível ou não, o esforço e o tempo de dedicação sempre terá valido a pena.

Entrevista concedida a Lucas Souza, editor de Basquete Nacional, que escreve de Recife, Pernambuco.

foto: BasquetePernambuco

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