Entrevista: Chiaretto Costa

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Publicado em: 18/01/2007

A frase que entitula a entrevista é de Chiaretto Costa. Um nordestino, pernambucano, mas foi no Piauí onde começou a aparecer para o basquete nacional. Presidente e Treinador da equipe do CBT-Teresina/Timbó(SC), o jovem valor do basquete nacional concede ao DB uma entrevista. Mostrando personalidade forte e arrojada, Chiaretto fala sobre o CBT, NLB e a situação do basquete no Nordeste e no Brasil em geral.


Arte: Matheus Abud

DraftBrasil
Nem todo mundo acompanha a NLB como um todo, você poderia fazer uma introdução sobre o que é o CBT e como surgiu?

Chiaretto Costa
Bem, o CBT, Clube de Basketball Teresinense, foi uma iniciativa minha e de amigos em fundar uma instituição que fosse voltada e se dedicasse mais à pratica do basketball. Isso foi em 1999. Começou com um time infantil e já conquistou todos os títulos no basquete piauiense. Alguns mais de uma vez como o tetra juvenil masculino.

DB
E a iniciativa de participar da NLB como veio?

CC
Trabalhar com basquetebol adulto sempre foi uma intenção minha, mas sobretudo pra mostrar que a qualidade do basquete de norte-nordeste confere condições para se estruturar um trabalho organizado e de qualidade. Quando apareceu a oportunidade eu fui atrás. Liguei para o Oscar Schmidt e disse que tinha a intenção. Mas inicialmente fui convidado para falar da Associação Norte/Nordeste de Técnicos de Basketball que tentamos fundar eu Roberto Dornellas, Betinho (técnico da Iziane) e Daniel Russo. Até fundamos, mas o pessoal não quis levar adiante e os cabeças assumiram funções nas suas federações. Mas chegando em São Paulo me foi feita a proposta de colocar uma equipe na competição, como eu já havia acompanhado o Lula na seleção brasileira juvenil, conhecia bem o nível dos jogadores e achei possível fazer isso com a maioria doa jogadores de norte e nordeste compondo a equipe com qualidade. Teríamos dificuldade técnica, mas foram bem menores do que pensávamos.

DB
Ainda sobre o CBT, onde o clube conseguiu angariar fundos, tendo em vista que o apoio ao esporte no Brasil é difícil e no Nordeste é pior ainda?

CC
Começamos com apoios da prefeitura e governo do estado e depois com recursos de empresários que colaboraram, mas tivemos sérios problemas de caixa por não cumprimentos de acordos com os que disponibilizaram ajuda.

DB
Esses problemas de caixa acarretaram em que problemas para o clube?

CC
Logo no inicio da competição nós tínhamos pelo regulamento aprovado numa assembléia que estive ausente que pagar as passagens e hospedagens para os clubes de São Paulo e Rio. Os jogos de ida e volta seriam em casa. Mas o tiro saiu pela culatra e tivemos prejuízos enormes. Nós e o Paysandu. Terminamos gastando mais que os clubes antigos na fase de classificação. Foi um sufoco. Por conta disso, no quarto jogo, o Macaé fez proposta para o Maranhão (Ronaldo, Pivô) e perdemos nosso melhor jogador e mais experiente. Com ele, ganhamos os únicos dois jogos na competição. Contra o próprio Macaé e contra o Saldanha.

DB
O site da NLB divulga o CBT como clube do Piauí e de Santa Catarina simultaneamente, o que significa essa parceria com o município de Timbó para o clube na prática?

CC
Olha, recebi um convite da Associação Basquetebol de Timbó para passar esse período entre a temporada 2006 e 2007 na cidade participando de competições na região e em troca eles me dariam condições de treino e de participar de competições da NLB em quanto estivesse aqui. A parceria foi muito boa, pois conheci atletas aqui do sul sem equipe e pude utilizá-los e trouxe também atletas que jogaram a temporada passada da NLB.

DB
Quais foram os destaques do CBT na última temporada? Foram todos utilizados em Timbó?

CC
Nós tivemos três jogadores que se destacaram nas estatísticas. Ainda levando em consideração a idade e estréia nesse tipo de competição, torna ainda mais relevante os números. Davi Galiza e Breno Takahashi foram os principais nomes. Estiveram sempre presente nas estatísticas, ou de pontos ou de fundamentos. 12º melhor cestinha em média da competição, Davi Galiza, 23º foi o Breno Takahashi. As performances continuaram boas na Copa Corpo em Ação, realizada em dezembro. Ficaram bem nas assistências,3º e 5º, e na pontuação 6º e 12º. Só o Aquiles Neto que sempre esteve entre os 10 reboteiros não conseguiu terminar a temporada por lesão e também não veio a Santa Catarina.

DB
Aproveitando a deixa, qual sua avaliação da Copa Corpo em Ação, competição que serviu pra preparar os times que disputam a NLB?

CC
Eu vejo isso como uma oportunidade de avaliar a equipe. Quem tá sem jogar e não participa de uma competição dessas perde tempo. Nós jogamos melhor, se você olhar as estatísticas da nossa equipe, vai poder ver que o time melhorou, cada jogo teve um cestinha diferente com mais de três jogadores fazendo mais de 10 pontos. Também estivemos bem nas assistências, fazendo o conjunto funcionar no ataque. Ainda precisamos melhorar muitos aspectos defensivos. Mas a Copa foi importantíssima pra nós e para o basquete brasileiro. Tivemos um jogo transmitido na TV Globo de Santos, a TV Tribuna. Basquete na TV aberta de novo. Faz tempo que não acontece isso com os clubes e ainda mais na Globo, numa transmissora tão importante como a de Santos.

DB
O fato de 20 times terem participado na última temporada, da liga ter 33 associados e apenas seis clubes participarem da Copa, não chega a ser um fato preocupante?

CC
Não acho. Essa era uma competição curta, de pré-temporada e a maioria das equipes do ano passado estavam jogando estadual ou tinha dispensados seus jogadores. Quem já tinha terminado o seu estadual. Na NBA as pré-temporadas também se fazem com poucas equipes. Isso é normal

DB
A NLB lançou o seu campeonato feminino com uma forma inusitada: as rodadas serão disputadas em circuitos itinerantes. Qual a previsão de lançamento do campeonato masculino, quais detalhes faltam ser acertados, teremos alguma forma de disputa renovadora?

CC
Olha, nós só vamos definir a forma de disputa depois que for acertada a participação das equipes que, por sua vez poderão se inscrever até 28 de fevereiro. Mas a tendência é que se barateiem os custos ainda mais. E a forma vai obedecer a esse critério, como está sendo o feminino. Mas isso tem bônus. Na NLB cada clube feminino vai ter transmissão de oito jogos pela TV e na CBB tem clube que no feminino vai ter apenas 1 jogo.

DB
Até o presente momento, quantos clubes estão inscritos para a disputa da temporada 2007 da NLB?

CC
Sobre isso eu não sei responder. Na verdade os clubes estão com tantas dificuldades financeiras que quase todo mundo deixa pra última hora, como foi na temporada passada. Querem saber se tem TV, TV diz que quer saber quem são os clubes e os acertos vão ser perto do fim do período de inscrição, ou seja, fevereiro. Mas é no basquetebol brasileiro todo. Na CBB tiveram dois times que saíram da competição depois de anunciados pela CBB e mais um desistiu. E fala-se que times do Rio estão com muitas dificuldades para manter suas equipes no campeonato.

DB
Times da NLB que estão disputando o campeonato da CBB no momento são dados como descartados?

CC
Acho que não. O Saldanha da Gama, que tem uma grande equipe, anunciou que joga NLB. Acho que outros devem jogar também.

DB
O Nordeste agora conta com outro participante na NLB, o São Luis. Qual a chave para a inclusão total do Nordeste no basquete nacional?

CC
Olha, acho que o caminho é esse. Participar. Depois aprendemos a fazer bem. Mas precisamos entrar e as coisas começam a acontecer. O time de São Luís fez três jogos em Santos e foi melhorando muito até o terceiro jogo. Eu acredito muito que o caminho é a inclusão. Não podemos ficar reclamando, precisamos trabalhar e nos incluir com nossos esforços e não ficar esperando que nos peguem pela mão.

DB
Não falta uma maior integração entre os times nordestinos, tendo em vista que a única competição de base entre clubes nordestinos é a Copa SESC de Maceió que ainda assim não é tão abrangente?

CC
Sim, sim. Falta muito. Alguns técnicos procuram preencher essa lacuna. Em Maceió tem o Agilson Alves, que faz isso e em todos os estados tem um ou mais, mas acho que os técnicos devam ser os principais interessados nisso por viverem de basquetebol. Por isso, acho que estar associados numa entidade é crucial para maior integração e evolução da classe. Quando compreendermos que o envolvimento nas decisões nos levará à integração: Nos integraremos!

DB
Pergunta do nosso editor Alfredo Lauria: como você vê o sucesso de JP Batista, que saiu do basquete nordestino, brilhou na liga universitária americana e agora brilha na Liga Lituana?

CC
Olha, eu teria tantas coisas pra falar sobre isso entalado na garganta. Gostam de fazer uma pergunta. Mas no norte-nordeste tem basquete? Principalmente dirigentes do eixo Rio-São Paulo. Mas eles sabem vir buscar na nossa região Iziane, JP Batista, Ratto e tantos outros. Mas quando queremos participar de campeonatos, muitos torcem o nariz. Agora tá aí pra o mundo ver. Um pernambucano brilhando no melhor basquete do mundo e um dos campeonatos mais ricos do planeta. Quantos JP Batista têm mais no Nordeste? E no norte? E no Centro-Oeste? E o técnico que formou o JP, pode formar outro? Sim! Ele pode formar vários. O êxito de JP está cheio de significado para o basquete brasileiro. Precisamos decifrá-los e fazer algo por isso.

DB
Uma prova da grande fonte de talentos que é o Nordeste seria a campanha de Sport Recife no torneio da CBB e CBT no torneio da NLB, com jogadores aproveitados nos grandes centros do Sul e Sudeste?

CC
Sim, claro. Nós não deixamos a desejar em nada. Estrutura é uma coisa que se conquista. O que precisa saber é se temos mão-de-obra para trabalhar dirigindo os atletas. Temos. Então podemos formar. Eu estive acompanhando o trabalho do técnico da seleção brasileira masculina para o sul-americano juvenil de 98, quando jogava Gui Giovanonni, Thiagão e outros, e posso afirmar que um dos melhores técnicos do mundo está em Pernambuco e chama-se Roberto Dornellas. Digo sem medo de errar porque conheço o trabalho de muitos técnicos no Brasil ou de quase todos. Talvez nem o Dornellas saiba disso, mas o é.

DB
Lula afirmou em entrevista ao Fábio Balassiano no Rebote que não quer pôr a culpa da campanha pífia no Mundial nas brigas internas do basquete Nacional, no seu ponto de vista o que é o ponto mais prejudicial as seleções nacionais?

CC
Existem vários: Estrutura. Você já imaginou uma seleção de vôlei treinando a não podendo cortar com muita força pra não fazer barulho e acordar as crianças que estão dormindo na creche onde a seleção treina? Pois a seleção treinou no Botafogo, COM O LULA, e não podia enterrar porque podia quebrar a tabela que as crianças do Botafogo treinavam. Isso foi amplamente divulgado. Mas temos outras coisas. Comissão Técnica: Quem são os auxiliares do Lula na seleção brasileira? Você já imaginou um presidente da CBV dizer ao Bernardinho quem vai ser o auxiliar dele? O preparador físico?O que ele faria se isso acontecesse? O que Felipão faria? Luxemburgo? E Lula o que faz quando os auxiliares dele são outros técnicos de outras equipes adultas que querem ardentemente aquela cadeira? Nada. Fica lá. Isso interfere no trabalho? Claro. Ele tem culpa? Acho que sim. Quais os motivos dos rachas internos? O Lula deveria agradecer de termos rachado internamente, porque se não fosse assim os times estariam fechando da mesma forma como o dele fechou porque o basquete não aparece mais na TV com o 19º que ele nos deu no último mundial. Onde estariam jogando Sandro Varejão e Aylton? No grupo Universo? Mas eu sempre digo que a culpa é do técnico. Se ele não tem estrutura para obter resultado, então saia do cargo e moralize nosso esporte. Porque o Brasil perdeu os jogos naquela vergonhosa participação porque não acertou a cesta, os lances-livres, não marcaram bem, ou seja, não se preparou e quem ganha pra fazer isso é o técnico. Desculpe-me Lula, mas politicamente falando: A culpa é sua.

DB
Chiaretto, gostaria de deixar uma mensagem pros fãs do basquete, praticantes ou não, que como um todo querem um basquete nacional forte?

CC
O basquetebol brasileiro tem uma história muito bonita e nós todos estamos lutando muito para fazer com que volte a ser grande mais uma vez. Esse é um momento de luta e a NLB veio de uma idéia com o mesmo sentimento que foi criado DraftBrasil: o amor ao Basquetebol. Então, grande abraço a todos e ainda nos veremos sempre.

Entrevista concedida exclusivamente a Lucas de Souza, membro da equipe do Draft Brasil, que escreve diretamente de Recife-PE.

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