Dois estilos, uma final

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Publicado em: 2/06/2012

As finais de conferência da NBA trazem de volta a tona uma velha dicotomia que, com certa frequência, permeia as disputas a esse nível no basquete estadunidense. Por um lado, temos um basquete mais vistoso, atlético e individual, próprio da escola americana de basquete. De outro, um jogo mais cadenciado, cerebral e que utiliza das características próprias de seus atletas em prol do coletivo, mais comum de ser visto no basquete europeu e que, com as suas especificidades, tenta ser reproduzido por algumas franquias da NBA.

Entre essas, podemos elencar duas equipes que, coincidentemente ou não, estão nas finais de suas respectivas conferências e melhor reproduzem essas características dentro do basquete americano. Se você chegou até aqui, já deve supor que estou a falar do San Antonio Spurs e do Boston Celtics.

Para os adeptos do jogo coletivo, a equipe texana é a que melhor representa essa característica na atualidade. Com um trio que se entende e se complementa como poucos (Duncan, Parker e Manu), o Spurs ainda conta com um elenco de apoio tão vasto e diversificado que, além de descansar suas principais estrelas mantendo o alto nível de basquete apresentado pela equipe, consegue fazer frente e oferecer soluções dentro do próprio plantel a praticamente toda adversidade apresentada pelo adversário. Com apenas uma derrota até o momento nos playoffs, os reservas da equipe anotaram 52 pontos na primeira partida da série contra o Thunder. Trata-se de uma proposta de jogo que visa agregar e fazer com que todos os elementos em quadra participem do jogo com a bola, procurando sempre o melhor momento para a definição do ataque. Longe de oprimir as individualidades, o basquete apresentado pelo time comandado por Popovich procura convergir os talentos individuais em prol do coletivo.

Outra equipe que apresenta uma proposta de basquete parecida – e que a realizou com maestria durante os playoffs de 07-08 –, o Boston Celtics chegou aos playoffs sem muito alarde, após uma campanha mediana (a pior desde a formação do Big Three) na temporada regular. Orquestrados por Rajon Rondo, os três pilares da equipe (Pierce, Garnett e Ray Allen) conseguiram organizar seus talentos em prol do jogo em equipe. Só que, ao contrário do Spurs, a equipe do Boston não possui um banco tão qualificado e diverso em possibilidades. E isso acaba, invariavelmente, refletindo diretamente no desempenho do trio de Boston em quadra, resultando em mais minutos por noite dos veteranos da equipe e um desgaste maior durante os playoffs. Na primeira partida da série contra o Heat, os reservas dos Celtics somaram apenas 14 pontos e não fizeram frente aos problemas enfrentados pela equipe durante a partida. Embora venha em uma descendente, o time comandado por Doc Rivers ainda tem lenha pra queimar e pode complicar as coisas para o Heat.

O reverso da medalha ocorre com outras duas equipes que são, sem dúvida, sensações em suas conferências e com frequência nos brindam com belas jogadas individuais; sejam elas enterradas poderosas, ponte-aéreas, arremessos contestados e qualquer outro tipo de jogada que os talentos individuais desses times são capazes de realizar. Estou a falar do badalado time do Miami Heat e a jovem e poderosa equipe de Oklahoma City, o Thunder.

Podemos considerar o Heat a equipe que melhor retrata esse estilo de basquete vistoso, atlético e individual no qual estou a falar. Liderados por dois dos maiores talentos que o basquete produziu nos últimos anos (com exceção de Kobe Bryant, quais outros jogadores são capazes de desequilibrar um jogo como Wade e Lebron?), a franquia de South Beach ainda conta com um dos melhores alas-pivô da liga, o técnico, porém por vezes soft Chris Bosh. Responsáveis por orquestrar praticamente toda jogada ofensiva, a dupla Lebron e Wade é capaz de mudar uma partida, mas humanamente incapaz de fazer isso todas as noites. Com um elenco de apoio limitado, o Heat sofre pela incapacidade de seu treinador, o jovem Erik Spoelstra, de construir um sistema de jogo que favoreça as incríveis capacidades de suas duas principais estrelas. Por conseguinte, é comum ver os dois reféns do jogo de transição, pick and rollsisolations, quando em geral Lebron faz a infiltração e chama a dobra da defesa adversária, abrindo espaço para jogadores como Mario Chalmers e Shane Battier tentarem seus arremessos de 3. É óbvio que o jogo de Miami não se resume a isso, mas essa é sem dúvida sua principal característica e também pode ser considera sua maior fraqueza.

Um patamar acima se encontra a equipe do Thunder. Com o competente Scott Brooks no comando, o time da cidade de Oklahoma possui dois pontuadores mortais e um esquema de jogo desenhado para otimizar as qualidades de ambos. Só que, ao contrário do Spurs, no esquema planejado por Brooks os coadjuvantes não funcionam tão bem. Com exceção de James Harden (que vem tomando as rédeas da armação no time, deixando Westbrook atuar mais como um escolta pontuador), os jogadores complementares não possuem qualidades ofensivas suficientes para se constituírem em ameaças sérias ao adversário. E digo isso me referindo especialmente ao garrafão da equipe, já que tanto Perkins quanto Ibaka, apesar de excelentes defensores, são extremante limitados quando atacam a cesta. O congolês ainda tenta, até o momento sem sucesso, criar um arremesso de média distancia confiável.

O reflexo disso pode ser observado na série contra o Spurs: dos 111 pontos da equipe no 1 jogo, apenas 23 foram computados pelos companheiros do trio Durant/Westbrook/Harden, sendo que desses, 10 foram marcados pelo veterano Derek Fisher. No segundo jogo a história se repetiu. Dos 98 pontos, apenas 35 pontos foram anotados pelos jogadores complementares, 13 desses por Fisher, jogador que costuma crescer de produção quando o time mais precisa e quanto menos tempo falta no cronômetro.

Enfim, o assunto é vasto e existem muitos pormenores a serem observados. Em suma, esses são apenas alguns pontos a respeito das características de jogo das referidas equipes na tábua ofensiva. É claro que em muitos casos esses estilos se misturam e, dependendo da qualidade do treinador e o elenco que tem em mãos, ambos podem coexistir. Todavia, é comum ouvirmos que durante os playoffs os grandes jogadores devem aparecer e resolver. Será possível que isso ocorra sem que esteja adjacente a isso um sistema de jogo que otimize suas qualidades? O que vocês pensam a respeito? Comentem!

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