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por sonicman » Sex Mar 08, 2013 11:04 am
Percebo que os posts do Bitous e do Raoni se pautam numa lógica "deles", preconceituosa em relação a "nós", os que, supostamente, não são torcedores. Enfim, algumas observações que me parecem pertinentes.
1- Em primeiro lugar, é engraçado ver caras que se dizem de esquerda usarem um discurso que legitima a violência contra o jogador (ou qualquer pessoa que seja) desta forma. Usando esse mesmo discurso, legitimo que o patrão explore fisicamente o empregado, ou que a homem explore fisicamente a mulher, apenas e tão somente por sentirem que a "performance destes" não tá boa. No caso de um torcedor bater no jogador, por mais apaixonado que seja o torcedor, no fim das contas a violência contra o jogador tem fins meramente metafísicos e egoísticos da psiquê do torcedor, razão pela qual, no fim das contas, pra mim o cara que faz isso tem tanta "legitimidade" pra isso quanto o machão que bate na mulher. Por mais que o torcedor seja apaixonado, no fim das contas o ato e seus objetivos são igualmente vis, e o tal do amor é absolutamente incapaz de mudar esse cenário (como bem sabem, o que não falta é homem espancando mulher e dizendo que fazem isso por amor).
2- Esse discurso de "eles são folgados mesmo", "é tudo igual", "só aprendem na porrada", entre outros, além de extremamente preconceituoso, parte de uma mentira já na proposição inicial. O jogador DEPENDE do bom desempenho de seu trabalho pra conseguir crescer na carreira, via de regra, essa é a sua única vitrine, então toda noite, quando ele entra em campo, podem ter certeza que a ideia inicial é sempre arrebentar, fazer o seu melhor e esperar que a conjugação de esforços iguais levará ao resultado positivo. Embora existam casos patológicos, via de regra, se o jogador tem uma série de jogos ruins em sequência, é ou por estar numa fase ruim (o que é perfeitamente aceitável, basta ver o número de artistas que já tiveram crise de inspiração na carreira - o discurso aqui me legitimaria a bater no F. Scott Fitzgerald só porque ele, no fim de carreira, escreveu obras ruins que não combinam com sua carreira magistral), ou porque ele é verdadeiramente ruim (e nesse caso, que combina com grande parte do nosso elenco, quem teria que ser cobrado é quem trouxe ele pra equipe, e não ele - ele não tem culpa de não ter talento). No fim das contas, esse é o mesmo discurso que ouço diariamente contra quem é formado em direito, contra quem é estagiário, contra médico, contra os professores em geral no Brasil, etc. - tudo ruim e faz braço curto, né? =P
3- Ligado ao 2: jogador (assim como qualquer trabalhador) não tem sangue de barata. Mesmo que o cara não consiga fazer o que ele gostaria no jogo, ele sempre vai achar que fez (ou pelo menos tentou fazer) tudo que podia pela equipe. Quando o torcedor contestar, é óbvio que vai revidar, o que é moralmente legítimo. Não é só o jogador que tem que ouvir o torcedor. A recíproca é verdadeira. Isso se chama democracia e liberdade de expressão. E se o torcedor não gosta do que ouve... senta e chora.
4- Preconceito de torcedor contra torcedor é a coisa mais imbecil (verdadeiramente boçal, aliás), que poderia existir. Esse negócio de "só a gente sabe torcer", "torcedor não pode vaiar no jogo", "esse cara não é torcedor" é tão absurdamente estúpido, que só abre margem pros preconceitos do lado contrário (o monte de palmeirense, por exemplo, que chamou o povo da Mancha de "gambá" e "bambi" ontem, dizendo que os manchistas torcem na verdade é pra Mancha Verde, e não pro Palmeiras). Dentro do estádio, cada um torce como quer. Vaiar a equipe por demonstrar nervosismo e falta de brio, aliás, é um expediente comum no mundo todo, e, por ironia, não são poucas as vezes em que isso dá resultado positivo, rs.
5- No caso específico da Mancha, como a reação ao que aconteceu no aeroporto demonstrou, o fato é que o torcedor do Palmeiras, de forma amplamente majoritária, se colocou de maneira firme e definitiva CONTRA a Mancha, cansou, não aguenta mais. E pouco importa o que a Mancha acha deles, a verdade é que eles se denominam palmeirenses e são majoritários, e querem ações de um jeito diferente. Por muitos anos essa massa majoritária gostou muito da Mancha, tenho a certeza que todos sempre admiraram a devoção desses caras que viajam Brasil e mundo afora em nome da equipe (muitos, como eu, só não devotam mais tempo ao time porque não nasceram em berço de ouro, e precisam lutar diariamente por seus outros objetivos). Mas a postura recente tem sido totalmente refutada por eles, e chegou num ponto que se tornou politicamente insustentável pra Mancha manter essa postura. TODOS esses fãs estão unidos em torno de uma ideia, testar uma abordagem diferente do "terror" e da cobrança cara-a-cara (física e verbal). E pouco importa o que a Mancha acha desses fãs, e de suas ideias. Politicamente, se não fizer isso, sua credibilidade será reduzida a pó (já tá beeem baixa aliás), e creio que as consequencias contra si poderão ser bem sérias (basta ver que o Nobre pretende discutir a questão das organizadas até com o governo federal, tendo um canal fácil de comunicação no Rebello, que imediatamente após os fatos na Argentina soltou nota de repúdio...). A hora, politicamente, é da Mancha ter a humildade de baixar a cabeça e aceitar fazer o que a maioria dos palmeirenses tá dizendo pra ela fazer agora: baixar a cabeça, sentar no cantinho, e conduzir a situação como A GENTE tá dizendo pra fazer. Se der tudo errado, aí a Mancha vai poder dizer "a culpa é de vocês".
6- Uma coisa que a Mancha vai ter que perceber é que ela, no atual futebol, é um anacronismo. Ela teria sentido se fizesse apenas a parte de cantar e torcer no estádio, e nada mais. Explico melhor: no atual futebol, qual o sentido econômico de um agrupamento de torcedores com símbolos próprios, bandeiras próprias, camisas próprias, etc? Esse agrupamento só dá prejuízo, oras. Um dos grandes méritos financeiros do Palmeiras é justamente o fato de ter, tradicionalmente (e aqui temos que ser sinceros, doa a quem doer), uma torcida de maior poder aquisitivo, que coloca as compras de material esportivo no nível de Bayern, Real Madrid, etc (não é a toa que a Adidas tem tanto apreço pelo Palmeiras), e que paga bem caro também pra ver o produto televisivo (não é a toa também que, mesmo basicamente ignorado em canal aberto, o Palmeiras ainda ganha bastante em TV, já que é o time que mais aparece em Sportv e Pay-per-view, um público prime que paga bem mais por cabeça). Nesse sentido, volto ao começo do parágrafo, a Mancha só teria sentido se se limitasse a cantar no estádio. Se não se limita a isso, melhor apagar sua presença, cortar todas as regalias e ingressos mais baratos, etc. O Nobre, que é um cara habilidoso, percebeu isso. Ele sabe, acima de tudo, que com a nova arena, vai ter mais um produto prime pra vender, e o perfil de torcedor que vai querer colocar na arena é o mesmo que compra todas as camisetas oficiais da equipe e que consome Sportv e pay-per-view. Idem pras iniciativas de marketing que tão sendo planejadas: elas não se direcionam ao torcedor da Mancha, elas se direcionam ao torcedor do dinheiro. Por tudo isso, nada mais justo que o Nobre cortar todas as regalias da Mancha - quem quer comprar ingresso dentro e fora de casa, que compre pagando seu valor integral, e se vire pra pagar no estádio. Acho, aliás, que ele deve estar cogitando a medida do Coxa que o PVC sugeriu: proibição imediata de quaisquer símbolos de organizadas no estádio.
7- É notório que a Mancha e sua atitude atrapalharam a contratação de jogadores nos últimos anos. Isso é bem relatado por jornalistas palmeirenses com acesso fácil aos bastidores do clube, como PVC e Avallone. O PVC parecia verdadeiramente envergonhado ontem com a postura dos manchistas - ele até falou que a Mancha só tem atrapalhado o Palmeiras, com propriedade. Engraçado, os caras dizem "queremos jogadôoo", saem no tapa com "jogadôoo", e depois não assumem o ônus de não conseguir contratar as melhores opções do mercado por sua conduta. Pior: o Palmeiras está tendo que overpaidar jogadores medianos por conta do "risco Palmeiras".
8- Diante de todo esse cenário, fica claro que a bola tá com a Mancha agora. Eles podem fazer o que me parece razoável, baixar a cabeça e aceitar o que a maioria da torcida quer. Se não fizerem isso, vão colocar sua credibilidade a zero, e ainda correm o risco de levar o Palmeiras junto. A outra opção é aceitar a faxina que o Nobre vai fazer, e virar peça de museu, já que, no modelo atual, as organizadas são um anacronismo, e se a Mancha não aceitar se reformular, vai perder o ônibus da história.